fico a olhar para elas as duas com cara de espanto, afinal não é todos os dias que se assistem a coisas destas (penso eu interiormente, tenho medo de lhes contar). conheci-as há umas semanas, duas, três, não sei dizer com precisão. só sei que foi no início das férias, num dos primeiros dias em que aqui cheguei. a primeira que eu conheci foi a A. estava na sala dos pequenos almoços, encostado à mesa dos queijos e fiambres, a tentar descobrir um instrumento qualquer que evitasse o apanhar pedaços de comida à unha. A. apareceu ao meu lado, tocou-me no ombro como se toca em alguém que queremos que perceba que estamos interessados em mais do que um obrigado. eu agradeci-lhe e sentei-me na mesa dela.
a outra conheci-a na piscina e chama-se C. é mais nova, mais bonita, mais interessante. também é mais calada, mais reservada, mais fechada. no entanto passei uma tarde inteira a falar com ela debaixo de uma sombra, com um chá gelado divido pelos dois. só posso dizer que a adorei. se não fosse por outra razão, seria por ser tão genuinamente paranóica quanto eu. nada daquelas encenações lésbico-sensuais de A. ali estava a real thing. e quis logo passar mais tempo com ela. claro.
o pior foi quando elas duas se juntaram. e aí, só me restou ficar a olhá-las com cara de parvo. é que o processo de amizade delas não poderia ser mais estranho. o que poderiam ser duas gajas interessantes, quando misturadas (como naquelas bebidas que juntam as coisas mais diferentes que conseguimos imaginar), tornam-se em dois objectos de plástico, dificilmente identificáveis com o pacote. A. a querer parecer-se com C. e, claramente, a não conseguir por ninguém ir acreditar nela. C. a querer parecer-se com A., só para parecer mais forte, mas a ficar com o rabo de fora como o gato escondido. mandei vir uma água mineral, ambas me chamaram maricas, e deixei-me levar pelos meus pensamentos inúteis...
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terça-feira, fevereiro 03, 2004
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