releio-me. anoto. recorro muitas vezes a palavras como chuva, sono. penso-me. repenso-me. não consigo calar os meus pensamentos da mesma forma que me é tão fácil calar a minha voz. sim, estou só. estou só como só poderia estar. não, não me é nada desconfortável esta solidão que, muitas vezes, me imponho. o que me agrada ter na vida é esta distância controlada, esta possibilidade de estar sempre muito mais comigo do que com qualquer outra pessoa. apesar de só gostar de pessoas. não quero animais nem companhia. não ligo a rádio para fingir que alguém fala comigo. prefiro um cd a tocar. na música somos sempre nós a falar com nós próprios.
quando te ris para mim eu nunca sei bem o que fazer. quando me abraças entro em pânico. sei como te tocar, como te fazer gostar de mim. sei como te beijar, como te fazer fechar os olhos a gemer devagar com prazer. sei o que te dizer, a maior parte do tempo. sei ouvir-te. sei até te compreender, mesmo que não pareça nada e que as palavras saiam da minha boca atabalhoadamente. eu sei isso tudo. mas quando ris, eu nunca sei bem o que fazer. o abraço, o pânico. penso em ti e chamo por outra pessoa qualquer. é sempre mais fácil, sempre sempre muito mais fácil. engano-me. logo eu, que gosto das coisas dificeis.
mandei-te uma mensagem de parabéns, mesmo que esteja com algumas incertezas em relação à data. foi depois de tomar café. ia a descer uma rua no centro da cidade, a subi-la um casal com um carro de bebé. tirei o telemóvel do bolso do casaco e escrevi-te. pensei em enviar-te uma mensagem de amor, apaixonada, reveladora. mas acabei por brincar, por dizer as coisas a brincar, como acabo sempre por fazer contigo. sabes, há tanta gente que diz que me ama que muitas vezes já nem acredito. há tanta gente a querer abraçar-me e beijar-me a boca que às vezes tenho medo. tenho medo de tanto amor. e quando digo as coisas a brincar, estou a dizer-te que sim. que este amor que se vai descobrindo muito além do que o amor deve ser sabe muito melhor.
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domingo, fevereiro 01, 2004
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