sorrio com as tuas censuras, as tuas dúvidas, a tua maneira de ser muito pouco atrevida, quando o que desejas é fazer tudo instintivamente, atirares-te nos braços de outros rapazes mesmo quando sais com os teus namorados, telefonar a meio da noite para pessoas que desconheces, atirar piropos a homens das obras. queres ser tu, tu, tu, intensamente, queres ser muito mais do que aquilo que consegues respirar e, num momento de lucidez, censuras as tuas palavras, escondes os teus pensamentos, talvez seja a tua maneira de não dizeres a ninguém o que gostavas mesmo de fazer.
depois, pedes à tua mãe que te alugue carros, que te compre brincos, que te mande estudar para frança, que te faça a cama, que te compre malas, que te arranje emprego, que te empreste dinheiro, que se cale, que te deixe sossegada, que passe fins-de-semana fora para poderes levar gajos para casa, que diga ao teu pai que te portas bem, que diga aos teus avós que és uma linda menina, pedes, pedes, pedes, pedes.
pode parecer desnecessário, aos olhos de quem não te conhece, mas continuas a apresentar-te sempre que encontrar alguém, mesmo que seja uma pessoa próxima de há anos... insistes em fazer tudo como se fosse a primeira vez. por isso, fazes agora essa cara de quem nunca pensou em nada, e dizes-me que me queres dentro de ti. eu sorrio e penso que finalmente ganhaste coragem para dizer essas coisas, mas na verdade, para ti, é como se eu nunca tivesse existido, e de repente me quisesses foder. para ti não há antes, e temo bem que também não exista depois. mas também, podemos sempre ter amor à primeira vista no encontro seguinte.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, fevereiro 15, 2004
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