puxo uma cadeira para o centro da sala que ainda está vazia. mudei-me hoje para esta nova casa e estranho-a. estranho toda esta novidade que me invade a pele. puxo uma cadeira para o centro da sala e meço com o olhar, com o cheiro, com a pele, com todos os sentidos, meço esta coisa de ocupar algo que é meu pela primeira vez. curioso, como recorro a estas palavras de posse. puxo uma cadeira para o centro da sala e saboreio o silêncio. este silêncio que só o vazio nos pode dar. o vazio. penso nesta palavra e deixo cair uma lágrima.
tento espreitar para fora da janela. existem pessoas a passar pela rua, lá em baixo. penso em pessoas que encontro na rua e em como elas me ferem com as suas palavras. alguém, numa conversa de circunstância, chamou-lhes terroristas. terroristas: aqueles que com boas intenções nos dizem coisas que são capazes de deitar abaixo o nosso mundo, o nosso trabalho, as nossas crenças. aqueles que nos lançam a dúvida recorrendo a exemplos de outros. conselho: não dar ouvidos, ignorar, desprezar. conclusão: impossível. olho para as pessoas a passar lá em baixo e fico feliz por estarem lá em baixo. aqui, silêncio, vazio, sorriso.
levanto-me e sento-me repetidas vezes. levanto-me e sento-me repetidas vezes. saio e entro da sala. saio, percorro o corredor, olhos os livros dentro dos caixotes, as roupas espalhadas pelo chão do quarto, a cozinha em alvoroço. entro, vejo o vazio, as janelas, o cheiro da tinta ainda tão presente. saio e entro da sala. toca o telefone, olho o visor, não atendo. não atendes, dizia-me ela com um sorriso malandro, há uns dias, sentados há mesa de um café. estás diferente. levanto-me e sento-me repetidas vezes. a casa nova. a casa nova. o silêncio. sorriso.
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quarta-feira, fevereiro 04, 2004
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