as coisas das quais eu falo quase nunca têm importância. são coisas inócuas, onde ninguém aprende nada a mais do que aquilo que já sabia e tinha por garantido há muito tempo. é por isso que um destes dias me vou decidir a deixar de escrever. não que tenham terminado todos os temas dos quais eu poderia falar. como é visível, eu falo quase sempre do mesmo. o problema também não está na falta de leitores, assim como assim, ainda há quem me leia. a minha decisão tem a ver com o facto de já não me satisfazer com aquilo que escrevo. é assim uma coisa como nos fartarmos daquilo que somos. conseguem perceber?
estava sentado no meu sofá com uma revista no colo. na televisão, não sei, o mudar de canal interminantemente. na cabeça tudo. tudo. tudo. eu ali todo, concentrado todo, na minha cabeça. olho a revista meio distraído. e salta a palavra sedução. gostava de ter cheiro de livros nos dedos e de caminhar por corredores de bibliotecas grandes. gostava que a minha barba crescesse muito de dia para dia. gostava de ter roupas largas e que ninguém me olhasse não me amando. gostava de sentir um corpo quente, perto de mim, um corpo renovado, surpreendente. gostava de tanta coisa.
o que resulta disto é a minha vontade de deixar de escrever. vontade de não ligar o computador, de não me sentar na secretária, de não medir a distância entre os dedos e o teclado. de deixar de encenar aquilo que não sou, de deixar de contar aquilo que nunca quis escrever. não que tenha deixado de existir quem sirva para ser contado. não que tenham acabado de nascer personagens. simplesmente, sou eu quem as deixou de ver.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, fevereiro 01, 2004
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