se eu não fechar os olhos, ou, se eu fechar muito devagar os olhos sempre que tiver mesmo que os fechar, conseguirei fazer com que o meu mundo seja mais lento. ao controlar a respiração, ao pensar em cada milionésimo de segundo da minha existência, julgo ficar mais próximo daquilo que será a minha totalidade, como uma cartolina grande esticada no chão da sala. se eu tivesse um marcador, pegava nele com as pontas dos dedos, tirava a tampa e escrevia em letras grandes. ALEGRIA.
se eu puser uma música bem calma, ajuda. depois basta tentar dar ouvidos ao coração e tentar a contaminação. um coração ao ritmo de música calma. música triste, sim, música triste era capaz de funcionar melhor. procuro no armário um cd que corresponda à exigência. quero injectar tristeza no meu coração, fazê-lo parar de bater. tento pensar em palavras como. aguaceiro. cinzento. praça. silêncio. ausência. longe. desarrumação. tento imaginar uma cartolina bem esticada no chão da sala. debaixo, uma carpete fofinha. a palavra ALEGRIA a sorrir-me e eu sentado no sofá. contente.
hoje uma senhora disse-me que não me conhecia. sorri e agi como se fosse uma pessoa crescida. às vezes gosto de ser assim, crescido. andar por ruas estreitas em cidades desconhecidas. sentir um arrepio de frio pelas costas sempre que um homem olha para mim. pensar que me vão bater. pensar que alguém vai gritar comigo. depois, atender o telefone e ouvir o teu sorriso. ser eu o mau. ser eu. dizer-te coisas que te fazem esquecer de outras. esticar as pernas e deixar o corpo escorregar pelo sofá, até deixar de ver a cartolina. pensar que seria bom estar só com quem gostasse de mim. e depois, não pensar.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, março 02, 2004
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