podia ser ao mesmo tempo que um piano começasse a gemer ao fundo de uma sala escurecida pela noite que chega. tinha a camisa de fora das calças, de umas calças confortáveis e largas, nos pés chinelos. podia ser ao mesmo tempo que uma rapariga ainda jovem, de pele clara e olhos sinceros, se repousasse sobre o sofá dessa mesma sala. tinha a pouca roupa que a solenidade do momento exige. podia ser numa casa, no campo. a nossa casa no campo.
podia haver alguns amigos a passear lá fora, de cabeças ao vento, barbas por fazer, amigas com garrafas de vinho tinto a escorrer pelos dedos, a tarde a cair devagar. os pés ao sair dos chinelos e repousantes sobre o chão quente do verão. podia ser ao mesmo tempo que a rapariga acendia um cigarro e um cão com nome de alegria saltasse sobre a mesa da sala onde estavam os jornais. podia ser uma música calma, uma música devagar. com vagar.
podia ser ao mesmo tempo que o mundo nos empurrasse para dentro de uma vida nova, feita nos quadradinhos de um desenhador boémio. livros e livros e livros pela casa, cadernos onde sempre começassemos romances, poemas. podia ser aquilo que me disseste, if strangers meet life begins- not poor not rich (only aware), podia ser once if strangers (who deep our most are selves) touch: forever, podia ser o piano, a pele, a luz, podia ser qualquer coisa, agora, para sempre, ao mesmo tempo.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, março 28, 2005
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3 comentários:
um inspirador cummings!acabo de terminar a terceira leitura
Cummings transita pela pele das palavras
na gota do vinho que cai sobre a mesa.
Cummings em nós eternizado
olhando para o tempo
que flutua,
com a maior tranqüilidade,
sem pressa e sem dor.
Tudo o que podia ser me traz a angústia do que poderia ter sido e não foi.
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