deixei os copos em cima da mesa, em cima da mesa da cozinha. no frigorífico, lá está, a garrafa de champanhe. tu ainda não sabes e provavelmente vais estranhar, os dois copos ali, os dois copos de cristal, em cima da mesa da cozinha. tu ainda não sabes e quando chegares, quando chegares do trabalho, vais de certeza estranhar. deixei os copos em cima da mesa e imagino-te a acenar a cabeça de um lado para o outro, em jeito de reprovação.
em cima da mesa da cozinha, os copos onde não deviam estar. tu a chegares do trabalho, a chegares cansada do trabalho, a pousar o saco do pão sobre a mesa, ao lado dos copos, a tua mala sobre a mesa, ao lado do saco do pão. tu ainda não sabes e dentro do frigorífico, lá está, uma garrafa de champanhe. os dois copos de cristal, que olhas com reprovação, não os irás arrumar. os copos em cima da mesa, tu a saíres da cozinha e imagino-te a pensar que eu que os arrume, eu e as minhas ideias parvas.
deixei os copos em cima da mesa, em cima da mesa da cozinha. no frigorífico, lá está, a garrafa de champanhe. tu ainda não sabes e vais estranhar, os dois copos ali, os dois copos de cristal, límpidos, por usar. tu ainda não sabes mas, ao mesmo tempo, tu já sabes. eu é que fiquei todo este tempo sem saber. fiquei este tempo todo sem saber que tu e o Nuno, tu e o Nuno, eu sem saber. eu e tu e o Nuno, cá em casa, eu e tu e o Nuno, tantas vezes, e eu sem saber. deixei os copos em cima da mesa, os copos de cristal. talvez chegue o Nuno, talvez façam um brinde. quando já não me restar nada para imaginar.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
terça-feira, março 22, 2005
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1 comentário:
Em cima da minha mesa um copo de cristal, inquieto, espera pelo vinho.
Por sinal, é Periquita, português.
Um brinde ao teu texto, à literatura, a Fernando Pessoa, a Drummond, à poesia, à palavra, e ao próprio vinho que nos embala a fala e a vida.
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