a sala está cheia de papéis e de livros. em cima das mesas, das cadeiras, dos sofás, papelada, livros. a sala está cheia. um aroma de incenso que se queima devagar, a um canto. música, muito baixinho. há um ambiente, pode-se dizer. há um ambiente nesta sala escurecida pelas nuvens de março. alguém sentado, olha, quieto, as coisas em redor. há um ambiente, terceira vez. sábado à tarde.
telefonaram. telefonaram e perguntaram-lhe por coisas. há um ambiente. a vida está cheia de coisas, ele pensa. sim, é um ele. a vida está cheia de coisas que se ligam, umas às outras, por correntes muito frágeis que duram para sempre. podemos mudar de lugar, as coisas permanecem ligadas, talvez só numa ordem diferente. há um ambiente, segunda vez. sábado ou outro dia qualquer.
podemos sempre voltar a tudo, a tudo o que dizemos ou que escrevemos. podemos passar o tempo todo a voltar aos lugares onde passamos. dizemos voltar e, no entanto, não é bem isso. porque o que acontece é fazer uma coisa nova. a cada momento, sempre coisas novas. por isso, a sala cheia de papéis. o incenso a queimar. ele, que olha sentado. há um ambiente, primeira vez. um dia qualquer.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, março 12, 2005
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
▼
2005
(461)
-
▼
março
(23)
- Neste mundo
- os malucos
- aquele jeito de dar aos ombros
- e.e.cummings com destinatário
- pequeno tratado sobre o haxixe
- chop-suey de gambas com vinho branco
- o escritor
- não fumar
- olá
- copos de cristal
- em Sintra, à chuva
- não lhe encontrei um título
- se a nossa vida dava um filme, porque não fazê-lo já?
- um dia, a Golgona queixou-se por ver uma frase del...
- portas
- gramática das línguas latinas
- ambiente
- jardim
- 22:45
- a pairar
- carta a mim
- o primeiro dia
- horário de voo
-
▼
março
(23)
Sem comentários:
Enviar um comentário