Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

segunda-feira, março 21, 2005

em Sintra, à chuva

devia começar por vos avisar que os meus poemas, pelo menos na forma como eu os vejo, não servem para ser lidos. avisados do que vos espera, então, avanço. ninguém me convidou para fazer este discurso, portanto, imagino-o e guardo-o para mim. nas primeiras palavras, avalio a acústica da sala. devia ter vindo cá mais vezes, antes, para poder ensaiar aquilo que vai sair. a minha intuição funciona assim. aos bocadinhos.

o meu segundo aviso é o seguinte: não vos vou ler os meus poemas. o que eu tenho, que se leia, são um amontoado de palavras, agrupados em versos ou em linhas de processadores de texto. o que eu tenho, são impressões vagas das coisas que as pessoas dizem todos os dias. o que eu tenho, é a cabeça molhada e a respiração alterada por ter vindo à chuva até ao cimo deste monte. testo a acústica da sala. olho os meus papéis. está tudo bem, assim.

terminam-se os avisos, pelo que me parece. acho graça que se possa estar aqui, numa sala de poesia, numa sala com tantos poetas, e ninguém falar da chuva que cai agora lá fora, ninguém falar dos caminhos que se fizeram para aqui chegar, das pessoas na bilheteira da quinta, a avisar-nos dos mapas. acho graça que se possa estar aqui e nenhum poeta arriscar uma saída do papel escrito. eu não fui convidado, por isso imagino. e tenho pena que a porta esteja fechada para a chuva sobre a erva.

2 comentários:

Miriam Luz disse...

Correndo o risco de incorrer em lugar comum (tantas vezes!...), repito que és simplesmente do outro mundo. Não sei se percebes o alcance do que tento dizer-te. Temo que não. Mas ao mesmo tempo sei que... sei que sabes.
E sei também que não te encontras. Não encontras o teu lugar, porque és sempre mais e mais. És mais. Sabes que és mais. Claro que és mais.
Lê-se.

Beijo. Sempre mais.

Tua,
Miriam

http://litostive.blogspot.com

Anónimo disse...

Tocou-me tanto que não o consigo escrever...nem exprimir.Se sentisse ria de felicidade e loucura por ter visto,o indescritível....é um privilégio.Gostava de pensar que um dia poderei ser assim Tanto...e fazer outro Alguém sentir assim tanto...tanto.