Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sexta-feira, março 18, 2005

se a nossa vida dava um filme, porque não fazê-lo já?

preferia plagiar autores conhecidos, sim, autores que escrevem frases bonitas e complicadas que eu traria para os meus textos como se trazem flores arrancadas dos jardins municipais para casa. preferia escrever como escrevem os artistas e os poetas, escrever de uma forma elevada e de difícil acesso às massas. mas não. eu não escrevo nada de jeito, já devias ter reconhecido isso, acabo só por escrever da mesma maneira que as pessoas falam, da mesma maneira que as pessoas dizem, vou comprar pão. só escrevo coisas normais e, por isso, trago para os meus textos as frases normais que me dizes a uma mesa de café.

é então como se eu estivesse a ensaiar uma teoria do romance, ou nem tanto, uma teoria do escrever histórias pequenas que não ocupam mais que uma página, uma maneira fácil e previsível de sem sair do mundo se o largarmos mesmo da mão. ensaio encontrar uma maneira de fazer as coisas que eu faço todos os dias e que nem sempre me levantam tantas dúvidas como as que agora tenho. às vezes, é mesmo só chegar e sentar, a história já está toda lá, debaixo da superfície branca do papel. às vezes, é andar com uma frase um dia inteiro na cabeça, uma semana inteira, e ter que encontrar a melhor maneira da encaixar numa história. às vezes, tudo isto me parece um imenso falhanço. e noutras vezes é só escrever aquilo que eu ouvi numa mesa de café.

então, se a nossa vida dava um filme, porque não fazê-lo já? não vale a pena ficar à espera de uma mau realizador, de actores preguiçosos e nada parecidos connosco. sim, eu sou um gajo estranho e vai ser difícil alguém imitar a minha cara de sacana quando digo coisas só da pele para fora. sim, tu não és parecida com ninguém e não vamos querer ter uma actriz que pensa que é boa a fazer da complexidade que é ser-se como cada um de nós é. façamos o filme, pois, porque o argumento é fraco e não vai haver subsídios para os cenários. então eu sento-me e começo a escrever as coisas normais que acontecem na minha cabeça e tu ficas aí desse lado a abanar a cabeça, a gostar imenso daquilo que vai aparecendo no écrã, e depois mandas-me um email onde me insultas. a coisa acabará por ficar resolvida numa mesa de café.

1 comentário:

Anónimo disse...

todas as historias começam por era uma vez. Era uma vez alguem que gostava de visitar blogs e se perdia entre historias (re)contadas. Por vezes essas historias até pareciam plagios de outras interiormente vividas. Se a nossa vida é um filme? why not? parabens pelo blog :)