as pernas esticadas sobre a mesa da sala, fazendo cócegas nos dedos dos pés com o arranjo de flores que a mamã recebeu do seu admirador secreto, o chão cheio de papéis de rebuçados e restos de amendoins sobre o peito, tento chegar ao pote dos chocolates e sinto um arrepio pela espinha abaixo, como se fosse um lombo de porco a ser esfaqueado, comidinha para o jantar.
a alzira a aspirar o corredor continuamente, como se o pó nascesse dos tacos de madeira polida que custaram os olhos da cara ao bisavô, tento mandá-la parar, mas não me ouve, ainda por cima surda como é, já só recebe ordens por carta registada ou por e-mail, sim, porque a sacana passa as noites inteiras a consultar, pedagogicamente, páginas sobre sexo na internet.
na televisão aparece o phil mendrix a apresentar o telejornal e eu sorrio, quietinho, para não perder a sensação. há dias que fico nesta posição, a tentar não imaginar como seria possível fazer outra coisa na vida. peço ao makavele para ligar o som do carro na garagem, a ver se consigo me distrair. mas o sacana insiste em fumar ganzas continuamente e em andar a espreitar pelas saias da alzira. comidinha para o jantar.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, março 31, 2004
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