andamos cheios desta felicidade decente que nos abraça como se o sol da primavera nunca tivesse nascido antes. é um sorriso forte e abstracto, do tamanho que fôr o da nossa cara, com os dentes todos que tivermos na boca. sejam eles tortos ou não. as outras pessoas, bem, até as outras pessoas, aquelas que nós diríamos que nunca na vida poderiam dar beijinhos a outras, pois bem, as outras pessoas também começaram a dar beijinhos. e logo eu, eu que sempre achei que ser bom nunca daria resultado, vejo-te ser assim e acredito que, se calhar, até tens razão.
quando nos sentamos no café, tu olhas para dentro de mim e eu amasso carinhos com os dedos nos teus cabelos. tu entornas o chá pela mesa e procuras incessantemente, dentro da mala, isqueiros que nunca existiram. quando está frio, o teu queixo treme e eu, como sou crescido, abraço-te com muita força. chega a haver dias em que acho que nunca antes nada foi como agora é. mas depois percebo que sou eu quem gosta de exagerar. falo baixinho e evito os desastres relativos que costumo originar. existem autocarros para o céu, sabias?
um elefante branco passa muito devagarinho no fundo do cenário onde já é de noite e percebo que ele vai sempre continuar a passear por aqui. oiço barulhos de árvores e olho a parede com sabedoria. encontrei, faz agora umas horas, uma ideia no fundo de um copo. quando me sento aqui, remeto-me sempre ao uso discreto das palavras que inventaram para mim. é difícil demais criar originalidades. por isso, abraço-te como me sento num sítio sombrio em dia de sol. porque, às vezes, também me sabe bem provar destas coisas que eu digo que só os tipos parvos provam. e do meio da minha inocência tola, repito-te, crescido, que já conheci tipos que viveram muito.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
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