hoje sou eu quem está dentro das calças. ando pelas ruas como um operário e tento subir as escadas que dão para a tua boca. onde estava antes "frio" está agora "desejo". peço cafés e não os bebo. saio à noite para provar umas imperiais. bebo e não gosto. venho para casa com o travo amargo dos amendois. penso em rins. apetece-me fugir dentro de uma chávena de chá.
faltam quatro dias para tocar o sino e eu dou passos em volta. procuro as flores do mal mas sabem-me a cravos recauchutados. passeio por entre filas de livros e oiço-te lá ao fundo, a fungar. dou-te um lenço de papel e olho para o sol. as paredes pretas pretas pretas. da cor da noite quando tenho insónias. agora que escrevo só sobre mim, decido nunca mais escrever.
um homem de barbas, outra vez. conselhos, sim. segui-los, como se seguem as estrelas. oiço e re-oiço as palavras de outro, infinitamente mais novo, infinitamente menos sabedor, igualmente delicioso. diz que tem uma bola de cristal. eu rio. rio sempre. o meu primo, mais novo, ri-se para mim e diz-me que estou sempre a rir. é para não se ver a chuva, digo eu. ele corre atrás da bola. e eu fico sentado à porta da minha casa. dizem que eu pertenço aqui.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, março 17, 2004
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