dou por mim a pensar que, às vezes, existem árvores azuis que se interpõem no nosso caminho. pássaros alaranjados e músicas feitas de corações a partir. dou por mim a pensar que, às vezes, existem pequenas histórias que nos são assobiadas ao ouvido. e que, não muito acima de nós, alguém dança em espiral sobre a nossa cabeça. depois, baixo os braços, tentando encontrar a calçada onde deixei cair o acento das minhas palavras. não sei como se diz ..., e também já não sei dizer ... . é engraçado como, às vezes, os encadeamentos lógicos das questões nos fazem periclitar. como passarinhos que não se sabem agarrar ao poleiro.
agora que já sou crescido, meto-me muitas vezes em encrencas. como as farinhas se metem nos pães e nos bolos. como os açucares nos entram pelas carteiras quando saímos, ensonados, para tomar café. o meu corpo reclama da impossibilidade de sonorizar todos os movimentos do sangue que se resguardam em si. arrumo a minha roupa em muitos armários, de forma a nunca conseguir encontrar as coisas que procuro. retenho-me nesta organização desorganizada, só para fazer valer o título de confuso. se um dia eu fosse rei, deixava que me cantassem as janeiras à janela. como não sou, fico quieto.
ali em baixo, no rés-do-chão da insistência, deixei ficar um corpo abandonado. sobre ele, descansa uma manta bordada com motivos de outras guerras. o sangue que dele escorre não é morte, é vida. trago uma fotografia dele nos meus dedos, uma réstia de um corpo escondido nas unhas por cortar. enquanto subo as escadas, de mim nunca se apodera o esquecimento. tenho sempre janelas abertas por onde exala esse cheiro sobre mim. ao procurar uma fonte onde me purificar, só encontro outro sangue que, mesmo misturado, nunca apaga a pureza do anterior. e eu fico quieto.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, março 13, 2004
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