o hoje ser dia de sol e praia pouco me diz. o hoje ser dia em que está mais fresco lá fora, não me interessa. e sim, pensei que isso já te fosse claro há muito muito tempo. mas surpreendo-me de cada vez que demonstras não perceber o que ficou aqui escrito nos meus olhos. afinal já há tanto tempo que olhas para eles. surpreendo-me, é a palavra certa, não me enganei. porque agora já não dói nada. não se trata de tentar recuperar nada daquilo que foi, supostamente, ficando pelo caminho. não há nada que se possa fazer.
eu fico sentado no sofá. fico sentado no sofá grande parte dos meus dias. ou então saio de casa e vou sentar-me noutro lado qualquer. sempre distante, sempre com os olhos perdidos num ponto qualquer que não está ao teu alcance identificar. mas não, não é um problema teu. é um problema meu. sou eu que quero estar assim, sentado na mesa de um café, num sofá, a olhar para o horizonte perdido. e não, também não estou distraído. e não, também não te estou a prestar atenção. estou como sempre nos habituámos a estar, aqui em casa. estou só para mim. e é bonito.
experimento-me e sou capaz de escrever estas coisas sem chorar. finjo que não estou a falar de mim e assim consigo escrever esta carta sem destinatário certo. talvez a deixe dentro de uma qualquer caixa de correio, para ver se alguém a lê. também sei que esse é o meio de nunca ter uma resposta directa, mas eu não procuro uma resposta directa. sim, não há nada para rectificar. há uma, ou melhor, existem centenas, milhares de vida para serem vividas. e eu simplesmente decidi que quero viver a minha o melhor que possa. simplesmente, é a palavra que devia estar sublinhada.
mesmo quando uma lágrima ameaça, eu recosto-me mais um pouco na cadeira, faço ninho no sofé, respiro fundo. estou como uma folhinha de árvore, apetece-me dizer. já corri a lista telefónica do telemóvel umas duas ou três vezes, mas é-me difícil escolher a quem o dizer. eu sei, na contacto verdadeiro que agora tenho comigo, que afastei todos aqueles que o poderiam ouvir. mas também desconfio que os afastei porque soube, mesmo que inconscientemente, que eles não iam saber ouvir. foi sempre assim. e eu acho que é bonito.
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quinta-feira, julho 29, 2004
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2 comentários:
é sempre assim...mas eu não acho bonito...
Há.....muito obrigado pelo comentário mas o meu blog não consegue chegar aos calcanhares do teu. Nem a minha escrita é tão boa como a tua. Eu leio o que escreves e obrigado por teres andado a passear por lá:D kiss@
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