isto é um carro a andar sozinho, um carro a andar pela estrada que já lhe é conhecida, fazendo-a milimetricamente da mesma forma que sempre a faz, quieto, enconstado à berma, talvez só mais devagar, isto é um carro a andar sozinho, os carros andam sozinhos, sim, não é como nos filmes, aqui vê-se um condutor, não é magia, aqui está lá alguém a fingir que faz tudo como o resto das pessoas, mas isto é um carro a andar sozinho, um carro a andar sozinho.
podia-se dizer, faz como eu faço, podia-se dizer, faz como eu penso, podia-se dizer, faz, faz, faz, podia-se dizer, o caminho até chegarmos pode ser longo mas existem autocarros e comboios, boleia não, só nos filmes, anúncios nos jornais, só nos filmes, podia-se dizer, faz amor comigo, podia-se dizer, faz a cama, podia-se dizer, faz o jantar, alguém que diz sim junto ao altar, alguém que sai a correr de casa, mete os óculos escuros e não atende mais o telefone, podia-se dizer.
prova estes morangos, são bons, prova estas cerejas, são boas, prova estas ameixas, são sumarentas, prova esta melancia, water melon, como dizem os americanos, mas americanos só nos filmes, e agora, tiras a camisa, e agora, tiras as calças, e agora, tocas-me, tocas-me, tocas-me, ouves um piano a ecoar vindo lá da sala do fundo, como nos filmes, prova todas estas frutas, não são para ti, como nos filmes.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, julho 18, 2004
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