Eu podia dizer, são os rapazes mamã, são os rapazes, mas não, não são. Enfim, os rapazes são uns chatos e eu tento fingir que não os oiço mandar-me as boquinhas que me mandam quando eu vou a entrar no portão do liceu. Eu podia dizer, são os rapazes mamã, e é por isso que eu visto estas saias curtas e as camisas de botões abertos até debaixo das mamas, os rapazes, mamã, mas os rapazes são uns anormais, tens quarenta e dois anos, já devias ter percebido isso.
Eu podia fingir, o Cláudio é meu namorado, eu podia dizer, vou sair com o Cláudio, tu gostas tanto do Cláudio mamã, tu gostas, e eu podia dizer o Cláudio e os amigos, a casa do Cláudio, os pais do Cláudio, depois tu e a mãe do Cláudio falavam ao telefone, tu e a mãe do Cláudio iam ao café, tu e o pai do Cláudio diziam bom dia e boa tarde, e eu saía com ele e os amigos, podia dizer, é meu namorado, podia entrar no liceu de mão dada com o Cláudio, os rapazes ficavam calados ou diziam Boa! Cláudio, e eu fingia que não ouvia porque eles são uns anormais.
Eu podia fazer tudo o que faço dentro das regras que tu me impões, mamã, eu podia ser aquilo que tu queres. Eu podia ser aquilo que tu sonhaste, os vestidos de folhos, o ballet, e passada esta fase da adolescência, vestia um fato de mulher grande e séria, advogada, tudo o que quisesses, o Cláudio, um doutor, um médico, o que tu quisesses, eu podia dizer, são os rapazes mamã, eu podia fingir, o meu namorado, mamã, mamã, e eu sei que não percebes, e por isso nunca digo nada, nunca digo nada, tu sabes porquê, mamã, tens quarenta e três anos.
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domingo, julho 25, 2004
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