deixa cair as tuas mãos sobre as pernas, prende a viola debaixo dos braços e levanta os olhos para mim. eu, que estou aqui desde o início dos tempos, não deixarei de marcar o compasso na bateria, mas queria que fizesses um pequeno sorriso, um pequeno pequenino sorriso, como quem diz, estou aqui, vejo-te e sei que me amas. ou talvez preferiramos um outro qualquer exagero, talvez ficar a tocar a noite toda, a cantar a noite toda, essa nossa maneira de ficarmos calados.
larga a caneta, larga o bloco, larga o dicionário de rimas, larga tudo. podes deixar que tudo caia no chão, não há problema. levanta os olhos para mim. eu continuarei a tentar encontrar o tom certo para as tuas palavras, não as escritas, mas aquelas que tu irás ensaiar no momento em que sentires uma pequena, pequenina lágrima a cair pela tua face. sim, amo-te. tudo isso deveria ser tão fácil como encontrar o número de sílabas certas para fazer uma canção de amor.
olha, vamos sair daqui, procurar pela rua, mesmo que sejam já cinco e meia da manhã, um café, um bar, uma coisa qualquer, um sítio onde nos possamos sentar frente a frente, com uma justificação qualquer como, apeteceu-me hoje estar contigo, apeteceu-me hoje ver a tua cara, apeteceu-me segurar a tua mão, dizer amo-te, segurando uma chávena de café ou um copo de cerveja. ou então deixemo-nos ficar por aqui até que o sono seja mais forte do que as notas que tentamos tocar, e depois podes guardar o bloco na sacola, a viola na caixa e sair, como se sai para um dia normal.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, agosto 01, 2004
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