encosto a minha cara na porta do teu escritório. olho o relógio, já passa das oito da noite. já toda a gente foi para casa. toda a gente menos tu. oiço-te a remexer em papéis sobre a secretária. ficaste a acabar um projecto que já está atrasado. oiço-te. encosto a minha cara na porta do teu escritório. sinto os teus movimentos apressados. sinto o teu cheiro. o teu telefone que toca e tu que dizes que não vais jantar hoje. que pedes desculpa. que tens trabalho. e eu ali. a excitar-me contigo.
conheço-te há quanto tempo? seis, sete anos. foi quando vim trabalhar para aqui. nessa altura eras mais jovem, eras solteira e tinhas sempre um monte de namorados atrás de ti. nessa altura, não te achava graça nenhuma. tinhas sempre tantos homens atrás de ti que eu não suportava a ideia de concorrência entre ti e mim. ainda para mais, há seis, sete anos, eu leva-me demasiado a sério. pensava em coisas como sexo perfeito, namoro à luz de velas, casamento. agora casaste, tiveste dois filhos, já não páras o trânsito. agora eu já não penso em nada. gosto de brincar.
acho que me ouviste. ou então paraste por qualquer outra razão. entretanto continuas a tratar dos teus papéis e eu volto a masturbar-me. agora é raro usares saias, é raro teres o cabelo solto, é raro sorrires a desconhecidos. agora tomas muitas vezes café comigo, no bar da empresa. falas-me dos teus filhos e do teu marido. o teu marido é um sucesso. aposto que tem amantes. ou aposto que não. aposto que é um marido perfeito. agora, mexes nos teus papéis, dentro do teu escritório, já passam das oito da noite. eu vou para casa a sorrir.
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sábado, julho 10, 2004
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