bebia calmamente o chá, sentado ao balcão do café, ao mesmo tempo que via a sua imagem reflectida no espelho, a sua barba já com dias a mais, o seu cabelo crescente, fora do lugar, despenteado, as suas mãos a brincarem com a colher, a chávena, o bule, os olhos a passear, espelho, televisão, porta da rua, havia barulho, outras mesas, outras pessoas, palmadinhas nas costas, e a grécia?, e a bola?, enquanto o chá, quente, a ser bebido, calmamente, muito mais calmamente se queria bebido.
o que pensava era uma cara que sorri enquanto ele olha desesperadamente para a janela, para o cimo dos prédios vizinhos daquela sala fria de aspecto, mas quente, demasiado quente para uma manhã de verão, a janela fechada, e o que pensava, uma cara que sorri e faz perguntas, uma cara que quer saber tudo o que há para ser dito, e o que pensava era ter que voltar lá atrás, onde as coisas estão em prateleiras, agora a serem vistas como numa televisão, como se fosse fácil, como se fosse possível mudar alguma coisa.
entretanto, a milhares de quilómetros de distância, alguém faz o mesmo percurso, pensa os mesmos problemas, tem pessoas do outro lado do corpo a dizerem o mesmo, então sozinho, e esse alguém encolhe os ombros, sorri, e continua pelos mesmo corredores daqui, onde se encontra com outras pessoas em tudo semelhantes às daqui, onde se sorri e se pensa o mesmo daqui, o que, enfim, não dá mais nem menos valor ao que vivemos, não altera mesmo nada daquilo que somos, enfim, restringe-se tudo a apenas literatura.
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sexta-feira, julho 02, 2004
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