vivo uma fantasia comigo mesmo, vivo dessa construção etérea de ter, constantemente, que me dividir em existências que satisfaçam os desejos ou efabulações dos outros. vivo uma fantasia comigo mesmo, cheio de ilusões e frustrações, cheia de avanços e recuos. vivo de me viver, de me constrangir permanentemente a liberdade, de me oferecer, sem condições, à loucura dos corpos e das visões ocultadas por portas entreabertas.
deixaste-me ficar sentado na tua sala quando ele entrou. disseste que não ia demorar nada. eu estava a beber um chá bem quente, apesar do calor lá fora. tu sorriste-me e saíste para o teu quarto. com ele. ele, que nem reparou que havia gente na sala. ou não quer saber ou excita-lhe mais o facto de ter uma ideia inconcreta dos habitantes da casa. se ele te perguntasse alguma coisa, dirias que eu era o teu amigo gay, um primo qualquer à procura de uma vida nova na cidade, essas coisas. ele acreditaria, acreditam todos em ti.
gritaste imenso com ele, gemeste como nunca te tinha ouvido gemer antes. sentei-me na soleira da porta da sala. encostei a cabeça na parede fria, na minha orelha conseguia sentir sa vibrações da cama no meu corpo. tu gritavas, gemias, e ele, calado, proseguia a sua função religiosa de se satisfazer com o teu espectáculo. eu baixei as calças, as cuecas e comecei a masturbar-me. já conhecia o teu sinal. havia um grito, o grito, como eu lhe chamava, que era o teu sinal de que a coisa estava a terminar. nesse momento eu tinha que acelerar o processo, vir-me e voltar a sentar-me no sofá da sala. depois de ele sair, abraçavas-me e lambias-me os dedos.
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sexta-feira, julho 09, 2004
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