onde eu me sentei dava para ver todo o espaço da sala. era amplo, sem nada que impedisse a vista de conjunto. tinha lá pouca coisa. há uns tempos, a arrumação-desarrumação era constante. depois, os móveis ficaram quietos. a apanhar pó. sim, nem o pó lhes limpavam.
o meu costume era espreitar pela janela. espreitar. com aquele sossego de quem sabe que a sala está vazia. que ninguém nos virá apontar o dedo na cara, pedir explicações. costumava espreitar. e só via o pó. o pó a crescer sobre os móveis antigos.
agora, a surpresa de me terem chamado para lá voltar, para voltar a espreitar, como de costume e ver a sala arrumada, as coisas a voltarem aos seus lugares, um quadro novo, brilhante, a insultar-me. a insultar todo o meu costume de ali estar sozinho. e sentei-me, onde dava para ver o espaço todo da sala, vergado, ao peso do estar ali.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, julho 03, 2004
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