entro na igreja e sento-me numa das filas da frente. está vazia, consigo ouvir o meu coração a bater. tento normalizar a respiração, acalmar-me. como que apagando o passo direito e apressado que deixei pelas ruas, de casa até aqui. sento-me, primeiro. olho à minha volta. ajoelho-me. respiro fundo. coloco as mãos bem junto da minha boca. dai-me, senhor, uma razão para te adorar.
era ainda de manhã. ouvi-a sair de casa e espreitei pelo buraco da fechadura. está de cara lavada, a sua pose séria. não sei para onde ia. olhei o relógio e eram sete e trinta da manhã. não estranhei que saísse tão cedo. estranhei sim que eu estivesse acordado, que estivesse alerta. sim, lembro-me. não conseguia dormir. não conseguia ficar quieto numa posição. sim, lembro-me. passei a noite inteira a masturbar-me.
lambeu-me o corte que me fez nas costas antes de se despedir. desapertou-me as cordas que me prendiam as mãos e as pernas. eu estava como que adormecido. a mistura de álcool, comprimidos e sangue esvaído deixara-me com tonturas. ela mordera as minhas pernas por inteiro. tinha os seus dentes marcados em todo lado, pequenas marcas de sangue pisado.tinha-me deitado sobre a mesa da cozinha. fez de mim uma refeição. uma oração.
(dedicado a Christophe Honoré)
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, julho 07, 2004
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1 comentário:
;) ATÉ QUE ENFIM!!!!
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