acordo a ouvir a chuva lá fora, o vento a empurrá-la contra os estores fechados do meu quarto, a rádio ligada numa conversa de doidos, marte a aproximar-se (ou não) do planeta terra. relembro-me do Tim Burton e dos seus homenzinhos verdes e, depois, também me lembro da sua história de natal, vista na véspera do 25 de dezembro, sozinho na sala enquanto toda a gente na cozinha a comer, sem que nenhuma das pessoas lá de casa se apercebesse que era aquele momento em que eu sentia o natal pela primeira vez como um adulto, a ver aquele filme estranho, tão fora de órbitra como os meus pensamentos quando eu tinha 16 anos.
olho, no escuro, o visor do telemóvel. é por ele que tu chegas, sempre com palavras doces, sempre com uma meiguice enternecedora que eu não encontro na minha pele. e dizes-me que o tempo está mau e que, na rua, te falta um abraço. eu visto-me à pressa e vou para o café, levar com o fumo de cigarros inconvenientes na cara. fico a olhar para a televisão, sempre num mesmo canal (tenho a ligeira impressão que o homem do café tem gosto em escolher o pior de todos os canais disponíveis no cabo), a repetir sempre os mesmos anúncios e as mesmas imagens de todos os dias, ainda para mais com o som de fundo de uma irritante rádio local. passo os olhos pelo Kundera mas estou inquieto. sinto nas pernas mais energia do que aquela que me é necessária dispender. quando eu tinha 16 anos também era assim.
acabo por me procurar onde eu sei que não me vou encontrar. mas insisto na ideia de que, dando-me aos outros, me ganho um pouco mais a mim. isso pode parecer estranho para ti, que estás aí escondida, longe. mas daqui de dentro do filme, é agradável perceber que já não tenho 16 anos e que já convivo muito bem com a ideia de que as pessoas, lá na cozinha, não se apercebem que eu estou a viver momentos marcantes na minha vida. ao fim deste tempo todo, estou finalmente a aprender a deixar de ter essa idade onde se tem o desgosto de se vestir como os dj's...
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quarta-feira, agosto 27, 2003
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