Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quarta-feira, agosto 13, 2003

do lado dele

ela chegou-se até mim e disse-me que eu devia começar a fazer colecção de pêlos púbicos, como o César Monteiro, num dos seus filmes da era João de Deus. com aquela primeira impressão achei melhor não lhe dar demasiada confiança. afinal, eu só estava ali para tomar café. se bem me lembro tinha entrado cheio de pressa, e não estava para ficar à conversa com alguém que me sugere uma coisa destas nos primeiros minutos de troca-palavras.[não era que me desagradasse, mas enfiar aquela história assim, sem mais nem menos, não me pareceu bem; talvez fosse o cigarro que me estava a cair mal.]
puxei de uma cadeira e sentei-me na mesa dela. estava cheia de chávenas de cafés vazias. apeteceu-me imaginá-la louca e depressiva, a enfiar cafés desde as oito da matina, mas afinal era farmacêutica e tinha ficado para trás do grupo de empregadas da farmácia que fica duas lojas abaixo naquela rua.a história dos pintelhos era só porque eu trazia um livro debaixo do braço com a imagem do J.C.Monteiro na capa.era uma intrujona, posso dizer isso.pareceu-lhe bem dar um ar de conhecimento. fez-me sentar para depois me dizer que estava à espera do namorado, mas queria que ele sentisse algum tipo de ciúmes por a ver ali sentada comigo.fiquei durante três segundos sem pensar. tanta merda na vida e agora esta gaja que eu não conheço decide usar-me para fazer ciúmes ao namorado.
puta que a pariu.
acendi um cigarro e fiquei a ouvi-la falar não sei bem do quê. quando chegou o namorado, sorri-lhe, apertei-lhe a mão e disse que tinha pressa, que não podia passar mais tempo sem dar notícias minhas ao Luciano, o meu agente.
quando saí do café, estava calmo, muito calmo.

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