ou então sou eu que estou calado, meio fechado no meu canto, agarrado a um copo de cerveja barata, daquelas importadas de sítios onde as pessoas não se embebedam tantas vezes quanto nós, e a apagar um cigarro nos meus lábios, como se hoje fosse dia de anos e no final do lume, eu enterrasse a ponta debaixo dos meus dedos e toda a gente da sala batesse palmas e acendessem a luz. talvez depois pudessemos comer qualquer coisa. tremoços, talvez.
ligo o leitor de cd's e oiço música antiga, daquela que ouviam os gajos que andavam nos ácidos e dançavam pelo meio da estrada a ver flores voadoras e raparigas de anéis diamantinos a passearem pelas nuvens. bato o pé ao ritmo da música, como se fosse uma criança no pátio da escola e, em frente à rapariga mais bonita das redondezas, eu batesse o pé também e lhe pedisse um beijo e ela mo desse. talvez depois pudessemos sair da escola e casar. ter filhos, talvez.
pois mesmo que eu te diga que não é nada de pessoal, tu não vais acreditar. prefiro encher a minha mochila e fingir que não se passa nada enquanto me voltam as dormências no cérebro e as dores pelo corpo e a impaciência de uma barata perante comidinha fresca num armário recôndito. e depois sigo caminho como se fosse uma grande viagem que se empreendesse por um país distante, onde me recebessem com flores no pescoço e me pusessem uma foto no jornal e até a tvi lá estivesse para dizer que eu tinha chegado bem e tinha sido principescamente recebido pelos nativos. como o pedro álvares cabral lá na terra que depois foi dele. água de côco e uma palmeira, talvez.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, maio 03, 2004
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