Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

quinta-feira, maio 20, 2004

E 15

a morte por afogamento é rápida e silenciosa. eu ontem vi um pequeno lago, um pequeno amontoado de pedras que sustinham alguma água, água insuficiente para cobrir o meu tornozelo. páro e penso: podia tentar matar a minha unha grande do pé direito. só para provar um pedacinho dela. no entanto, olho os cigarros dos outros, mesmo sem os fumar. e quando volto a casa, a minha casa está perdida, como sempre esteve.

a morte por afogamento é rápida e silenciosa. não sei porque não me sai esta frase da cabeça. pensei em procurar canetas e papéis, pensei em escrever-te frases completas e com sentido. consinto que quando as tento pôr cá fora elas saem tortas. e depois, mesmo que eu não esteja desse lado de lá, a forma como eu o vejo, percebo que fica muita coisa por perceber. ainda assim, como num espectáculo de magia, tu tiras coelhos da cartola. e eu vou a sorrir para casa.

a morte por afogamento é rápida e silenciosa. contabilizo os meus choros, contabilizo as minhas bebedeiras. sim, sim, julgo que já teria líquido suficiente para deixar de respirar. no entanto, ainda aqui estou. e, apesar de estranho, apesar de tão parecido com a mentira, sinto-me vivo. sinto-me cheio de vontade de agarrar as nuvens. dizem que é delas que os sonhos são feitos. ainda assim, passo a minha mão pela testa e sinto o suor. como este texto, que não podia acabar bem.

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