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quarta-feira, maio 26, 2004

notas para o bailarino

eu não estava lá, estava muito mais longe, sentado num consultório demasiado quente, escondido atrás de uma planta verde enorme, com vista refractada para umas meias de vidro adolescentes que faziam cara de poucos amigos enquanto guardavam o livro na mala para me enviarem mensagens maldosas pelo telemóvel. portanto, como já afirmei, eu não estava lá, estava muito mais longe. no entanto, isso não me impediu de saber, quase em primeira mão, da birra que ele fez quando estava no palco. sim, eu soube de tudo.

não vou agora revelar como soube do acontecimento, a meu ver não é isso o mais importante. que ele passou ao fundo da rua, sem me ver, que ele passou em frente a uma esplanada, sem me ver, que ele entrou e saiu de uma papelaria, que ele entrou e saiu de um café, que se fazia acompanhar por uma mulher baixa e de roupas largas, não me parece sequer conveniente dizer como eu soube de tudo isso. quanto á cena do palco, ainda me restam algumas dúvidas, algumas coisas que eu gostaria de saber. embora também isso não tarde. o que eu posso dizer é que alguém, talvez uma aluna, talvez uma colega, disse que ele era um pachá, aquele gajo é um pachá, disse ela. e não o vi mais nesse dia.

quem sou eu? bem, isso também seria demais revelar. o que eu posso dizer é que sou alguém que sabe muita coisa, mesmo de acontecimentos onde não estou presente. não se aflijam, não sou um espião nem coisa parecida. sou apenas alguém que sabe. no entanto, é mais fácil encontrarem-me longe, em consultórios quentes, com visão refractada para meias de vidro adolescentes. aquele atrás das plantas verdes altas, sou eu.

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