eu não desapareci, não, tu é que não estás aqui. chego tarde mas a horas, olho para todos os lados e nem um sinal de ti. falam-me de umas casas ao longe, os outros, os que ficaram, mas eu não vou subir e descer ruas, nem das estreitas nem das delgadas, para te encontrar. eu não desapareci, escrevo em letras pequeninas numa porta velha de uma casa de banho pública.
vesti uma camisa de domingo e umas calças apertadinhas, quero parecer um menino bonito quando passar à porta da igreja e vou levar ramos de flores garridas nas mãos, um lenço cor de rosa dobrado no bolsinho do casaco, o cabelo penteado, alguma brilhantina. quando finalmente me vires vais dizer, ainda bem que vieste e eu vou sorrir, com orgulho.
está sol e está frio, as flores ficaram em cima da esplanada, com o vento que está, já eu estou despenteado, já o ramo deve ter voado, os outros, os que ficaram, falam de casas grandes e altas, de ruas cheias de gente feia, eu volto para casa, orgulhoso e calado, de mãos a abanar como o vento, as mãos não voam, diz-me a minha mãe, eu sei que não, eu sei tão bem que não.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, dezembro 16, 2004
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1 comentário:
ehpah às vezes escreves coisas mesmo bonitas.
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