mas se eu não sei escrever histórias, se eu não sei ficar parado, a olhar, como vamos dizer à tarde, que a esta hora está para chegar, que o dia é uma mão que se fecha, até se apagar a luz? eu não vou dizer três vezes a mentira que está para chegar, nem vou calar, nem em frente aos microfones do teu peito, a miséria que cobre o não. um dia haverá um jardim e, quem sabe, por lá, um lugar para mim.
quero dizer coisas que toquem as pessoas por dentro, dizer palavras que não se vejam na rua, sonhar sintagmas que te façam corar, dormir junto de um fogo, dormir sem parar. volto atrás no texto, risco as frases. aquela frase que vês aqui. não suporto a rima interna, não suporto o som sonâmbulo dessa poesia. ou então sou eu, em transe, a tentar enfeitiçar-te. podes fechar os olhos outra vez.
[quem chega a esta hora, chega sempre tarde demais. já não se diz bom dia, nem boa tarde. agora, o que é que tu pensas de mim? usas o telefone para me deixar em suspenso. é sábado de manhã, queres me ligar ou não? eu não vou dizer três vezes a mentira, eu não calar. estou livre, como se está livre num país dourado, a minha testa em suor, ausente. quem está do lado de lá da porta? eu vou entrar pelas portas que tu deixaste fechadas.] sim.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, dezembro 04, 2004
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