são quatro horas da tarde, quatro horas ditas dezasseis, dezasseis horas e alguns minutos, no rádio já devem ter dado as notícias, nos empregos ainda há quem esteja a sair, eu vim do passeio, tu, sei lá, do metro ou de outro autocarro, quantos autocarros terás que apanhar até chegar a casa? onde será a tua casa? sim, desconheço tudo de ti, excepto que existes.
sento-me ao teu lado, último autocarro da minha viagem. lês um jornal profundamente desinteressante, salva-te o facto de o leres com o desdém que merecem as coisas desinteressantes. estás mais bonita assim, de cabelo ondulado. não te digo nada. sento-me silencioso. como os homens que não falam nunca. respiro.
não sei se dás atenção a essas coisas, de ser a segunda vez que viajamos lado a lado, a quarta vez que partilhamos o mesmo autocarro. não sei sequer porque é que eu dou atenção a estas coisas, eu que não gosto de ninguém. talvez seja a emoção passageira das nossas pernas se encostarem durante a viagem inteira. talvez a lembrança dos nossos dedos a fugirem tão próximos um do outro.
estamos aqui onde ninguém nos vê, nestes bancos do autocarro. podemos olhar um para o outro, sem querer que o outro repare. vamos enconstados, muito encostados, ainda para mais com estas roupas de inverno. adormecemos, adormeces, a meio do caminho, acordamos, acordas, de repente, com uma travagem. digo, um cão, tu sorris e esfregas os olhos. saímos por portas diferentes do autocarro.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, dezembro 13, 2004
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