está tudo pelo chão, como há muitos anos atrás, não sei se te lembras, a casa tão desarrumada, as palavras sem nexo, a saírem da tua boca como sentenças, a entrarem noutros ouvidos como condenações, e hoje, levado a pensar que está tudo pelo chão, como sempre, como dantes, esforço-me a não acreditar no que me dizes, porque, enfim, todos nós crescemos, mesmo que para os lados, e enquanto se vai alterando a nossa forma de andar, enquanto ficamos mais lentos, assim o nosso pensamento, a nossa forma de ver as coisas, se altera também. se não fosse por mais nada, seria por isso.
eu que não sabia que era possível ficarmos a sorrir em frente a um computador, parados, fora dos filmes que vejo na televisão, fiquei assim quando apareceste, certo dia, pelo final da noite. agora já sou crescido, pensei, já sorrio parado em frente a computadores. olho para o chão, ao redor dos meus pés, e sim, ainda há coisas espalhadas, está frio, e no quintal àrvores perdem frutos à velocidade dos dias, quando chove. mas agora eu visto casacos e já não fico a pensar que sou imortal. embora, muitas vezes, me corte a fazer a barba sem que doa nada.
será capaz deixar de se saber escrever no meio de um texto? mas quantos anos tem um texto para crescer? há muitos muitos anos, estava tudo pelo chão, e eu construí com palavras uma casa, um quintal e uma árvore. agora caem os frutos pelo chão, mas a casa não envelhece. uso ou abuso dos seus constituintes. como é possível que tudo esteja como dantes, exactamente? eu sentado na mesa a ver a casa a crescer pela folha em branco, despida. faço de mim um lugar público, uma cadeira imersa de um corpo. porque eu sou sentado, e sim, consigo andar, mesmo no meio desta confusão aos teus olhos.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, dezembro 02, 2004
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