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sábado, dezembro 04, 2004

explicação

não sei porque comecei a pintar os olhos de negro sempre que fazia amor. era uma espécie de máscara, uma forma de me esconder atrás de algo. já não podia dizer, estou nu. havia uma barreira entre o dentro e o fora. não sei porque comecei com isto. não sei explicar. é só mais uma coisa assim.

não sei porque não me disseste nada. talvez tenhas achado engraçado, da primeira vez. exotismos meus. depois, sem que nenhum de nós reparasse, foi ficando, um hábito presente, insistido, diário. eu e os meus olhos pintados deitado sobre tu, virginal, sempre, mesmo depois de todas as noites em que suamos um amor nosso.

é só mais uma daquelas coisas, diria o meu psiquiatra, que você insiste fazer perdurar. dispa-se, homem, dispa-se, repete uma senhora na loja. eu parado em frente do espelho, as calças e o casaco do fato de noivo nas mãos. certas coisas não conseguimos nunca explicar, muito menos numa carta, que se queria deixar de escrever. não sei porquê.

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