macadamizar-te como uma estrada antiga, é um desejo vulgar, eu sei, mas transformar-te em caminhos antigos, daqueles que se amam mas já muito poucas vezes se utilizam, onde é bom chorar ou beijar, onde é bom deitar, respirar, deleitar o corpo com uma memória quase apagada, mas de resto, esuqecido, longínquo, macadamizado, como uma estrada antiga.
releio-te imensas imensas vezes, como se tudo fosse novidade para mim, nesta minha cabeça de vento onde já nada se fixa a não ser uma enorme sede de estar sozinho e isolado de tudo aquilo que existe, pois tudo o que existe tão facilmente se torna ameaça para mim e para o meu mundo, este meu mundo fechado dentro de casa, cada vez mais quarto, este mundo onde existe uma mesa, é certo, existe uma lâmpada, livros e livros e livros, este mundo onde os discos parecem que tocam todos riscados e onde não está mais ninguém que me possa aliviar a não ser as caixas de comprimidos que dormem ao meu lado na mesa da cabeceira.
quando abro a janela tenho sempre frio, quando entro na cozinha estranho sempre os cheiros do fogão, quando me aproximo da sala as vozes que de lá ecoam são sempre irritantes.arrasto os pés entre o quarto e a casa-de-banho e fico muito muito tempo a olhar a minha cara no espelho, esta cara marcada por uma adolescência eternamente esquecida, esta cara feia que insiste em sorrir para os desconhecidos e que se fecha para quem me quer falar ao coração. não tenho coração, não tenho coração, não tenho coração, repito para mim mesmo até ao infinito.
tiro os chinelos e deito-me sobre a cama, religiosamente. abro um livro e leio, mas sem atenção. tudo o que penso é em mim. percorro o meu corpo à procura do que estou a sentir. passo as páginas sem conseguir retirar nenhum nexo das frases impressas. volto a pensar em macadame, tão parecido com madame. sim. a cabeça dá voltas, voltas.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, dezembro 28, 2003
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