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domingo, dezembro 21, 2003

cartão de natal

eu bem queria ser um pouco poético, um pouco lí­rico, ter uma qualquer capacidade romântica neste meu 98cm por 180cm, mas, caralho, não consigo. eu sabia que ela ia estar lá na loja e pensava aproveitar esta cena do natal para lhe perguntar se, por acaso, a gaja não quereria ir sair comigo sábado à  noite. vai haver uma party na discoteca, e eu pensei que ela era capaz de gostar, ir até lá curtir um som e o caralho, e depois quando estivesse para a trazer para casa, no carro e coiso, punha um música fixe e era capaz de lhe dizer assim qualquer coisa bonita e pronto, ainda dávamos uns beijos e depois no ano novo podí­amos estar juntos e acho que era bem capaz de ser uma grande entrada no ano novo, caralho, já viram bem, eu e aquela gaja, seria um estrondo. mas como eu sou uma grande besta, fodi o esquema todo, logo na primeira parte. vejam bem esta merda.

entro na porcaria da loja e o que me começou logo a foder foi a amiga dela que trabalha lá também. viu-me entrar e começou-se a rir, a grande cabra. eu levava um cartão de natal, tinha copiado para lá uma cena do Fernando Pessoa e pensei que aquilo não podia falhar. a gaja estava a atender uma cliente e a amiga dela, a grande puta, veio ter comigo, a rir-se, e pergunta o que é que eu desejava e se podia ajudar. eu olhei em volta e não tinha maneira de me escapar daquela merda, só havia roupa de gaja na loja. foi assim, a gaja provocou-me. perguntou-me se eu vinha para encontrar alguma coisa para a namorada ou assim, quando ela sabia muito bem ao que eu vinha, a cabra de merda. levou-me para a secção de lingerie e pôs-se a mostrar-me cuecas e soutiens, eu muito atrapalhado com aquela merda, a gaja sempre a rir-se, a rir-se, a grande puta. e de tal maneira a gaja me lixou, que quando a Márcia me veio dizer olá, estava eu com umas cuecas de renda vermelhas na mão. e com o meu jeito para embrulhar presuntos, disse-lhe logo, tenho aqui uma coisa para ti.

a gaja ficou mais vermelha que uma alface e a puta da amiga dela deu uma gargalhada que fez a loja toda olhar para nós. nesse preciso momento vi o fernando pessoa a ir pelo buraco abaixo. fiquei um bocado a gaguejar, a tentar explicar que não estava ali a fazer nada com aquelas cuecas, que tinha lá ido para lhe dar outra coisa, um cartão de natal e a cabra da outra em vez de se ir embora, diz logo, um cartão, que querido, deixa ver, tira-me a cena das mãos, abre o postal, e começa a ler em voz alta. foi ela que me provocou. a Márcia estava ainda mais vermelha e nem dizia nada nem me olhava sequer. quando a outra leu o poema e o convite para sair e diz que isto que aqui está escrito não tem jeito nenhum, não me controlei. da forma mais educada que consegui, mandei-a ir para o caralho, rebolar-se em merda, disse-lhe que ela era uma cabra ciumenta e que não tinha nada que estar a ler aquilo. a gaja pôs-me fora, a mim e mais ao cartão. a Márcia nem a vi mais. eu bem queria ser um pouco poético, um pouco lí­rico, ter uma qualquer capacidade romântica neste meu 98cm por 180cm, mas, caralho, não consigo.

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