eu bem queria ser um pouco poético, um pouco lírico, ter uma qualquer capacidade romântica neste meu 98cm por 180cm, mas, caralho, não consigo. eu sabia que ela ia estar lá na loja e pensava aproveitar esta cena do natal para lhe perguntar se, por acaso, a gaja não quereria ir sair comigo sábado à noite. vai haver uma party na discoteca, e eu pensei que ela era capaz de gostar, ir até lá curtir um som e o caralho, e depois quando estivesse para a trazer para casa, no carro e coiso, punha um música fixe e era capaz de lhe dizer assim qualquer coisa bonita e pronto, ainda dávamos uns beijos e depois no ano novo podíamos estar juntos e acho que era bem capaz de ser uma grande entrada no ano novo, caralho, já viram bem, eu e aquela gaja, seria um estrondo. mas como eu sou uma grande besta, fodi o esquema todo, logo na primeira parte. vejam bem esta merda.
entro na porcaria da loja e o que me começou logo a foder foi a amiga dela que trabalha lá também. viu-me entrar e começou-se a rir, a grande cabra. eu levava um cartão de natal, tinha copiado para lá uma cena do Fernando Pessoa e pensei que aquilo não podia falhar. a gaja estava a atender uma cliente e a amiga dela, a grande puta, veio ter comigo, a rir-se, e pergunta o que é que eu desejava e se podia ajudar. eu olhei em volta e não tinha maneira de me escapar daquela merda, só havia roupa de gaja na loja. foi assim, a gaja provocou-me. perguntou-me se eu vinha para encontrar alguma coisa para a namorada ou assim, quando ela sabia muito bem ao que eu vinha, a cabra de merda. levou-me para a secção de lingerie e pôs-se a mostrar-me cuecas e soutiens, eu muito atrapalhado com aquela merda, a gaja sempre a rir-se, a rir-se, a grande puta. e de tal maneira a gaja me lixou, que quando a Márcia me veio dizer olá, estava eu com umas cuecas de renda vermelhas na mão. e com o meu jeito para embrulhar presuntos, disse-lhe logo, tenho aqui uma coisa para ti.
a gaja ficou mais vermelha que uma alface e a puta da amiga dela deu uma gargalhada que fez a loja toda olhar para nós. nesse preciso momento vi o fernando pessoa a ir pelo buraco abaixo. fiquei um bocado a gaguejar, a tentar explicar que não estava ali a fazer nada com aquelas cuecas, que tinha lá ido para lhe dar outra coisa, um cartão de natal e a cabra da outra em vez de se ir embora, diz logo, um cartão, que querido, deixa ver, tira-me a cena das mãos, abre o postal, e começa a ler em voz alta. foi ela que me provocou. a Márcia estava ainda mais vermelha e nem dizia nada nem me olhava sequer. quando a outra leu o poema e o convite para sair e diz que isto que aqui está escrito não tem jeito nenhum, não me controlei. da forma mais educada que consegui, mandei-a ir para o caralho, rebolar-se em merda, disse-lhe que ela era uma cabra ciumenta e que não tinha nada que estar a ler aquilo. a gaja pôs-me fora, a mim e mais ao cartão. a Márcia nem a vi mais. eu bem queria ser um pouco poético, um pouco lírico, ter uma qualquer capacidade romântica neste meu 98cm por 180cm, mas, caralho, não consigo.
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domingo, dezembro 21, 2003
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