Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)

sexta-feira, dezembro 19, 2003

ceci n'est pas une famille (mais pourquoi pas??)

ela diz, babe, naquele vozear esticado pela noite inteira, baaabe, nasalizado, como só as femmes fatales sabem fazer. eu estendido na cama, nu, pés frios e cigarro apagado, melhor, beata apagada ao canto da boca a sorrir como só os homens ligeiramente porcos sabem sorrir. ela diz. baaaaaaaabe, imaginem todos estes [a] num só [a] longuíssimo, como só os comboios são longos a subir as montanhas imaginárias da Bolívia e a fazer curvas, curvas, curvas, curvas. e eu sorrio, quieto quase. arrisco-me a dizer, miúda somos únicos. ela abre muito os olhos e desata a gargalhar. eu tento chupar uma última réstia de fumo da beata apagada.

levanto-me e sinto o choque dos pés frios no chão gelado. coço os tomates enquanto caminho para fora do quarto. o corredor está escuro e cheio de porcarias pelo chão, desde todo o tipo de roupas de diversas pessoas a lixo velho, lembranças, bugigangas compradas não se sabe porquê, outras coisas que tiveram uso mas já se esgotaram. à porta do wc acendo mais um cigarro e cantaroleio, fui à loja do mestre andré, tra la la la tra la la. sento-me na sanita e cago. ela vem atrás de mim e pisa um vinil velho que estava caído no corredor. Merda Luís, c'um caralho meu, não sabias arrumar estas merdas? eu cago-me e canto, fui lá comprar uma ganza tra la la la la.

procuro no meio dos cd's qualquer coisa que se possa pôr a tocar em volume máximo. ela está ao meu lado a tentar pôr gelo no pé que ficou meio dorido. escolho uma merda ao calhas, tenho os discos todos nas caixas erradas. ela passa com um cubo de gelo pelas minhas costas e tenta enfiá-lo no meu cu. dou-lhe uma palmada na mão e acendo um cigarro. procuro as calças, visto as primeiras que encontro e uma tshirt que pelo aspecto já não sente àgua desde a última vez que apanhei uma molha. ela pergunta, onde é que vais, baaaaaabe?, e eu rio-me. vou lavar a cona ao rio, lobo mau. ela deixa-se cair na cama e abre as pernas às gargalhadas. eu acendo um cigarro e viro-lhe costas. quando fecho a porta ainda a oiço a gritar cabrão.

Sem comentários: