ela ri-se, desdentada. tem os cabelos oleosamente despenteados, numa tentativa falhada de rabo de cavalo. ri-se, ri-se muito. muito muito alto. aliás, ela quase que me deixa surdo, que nos deixa surdos, a todos, cá em casa. ela ri-se, ri-se de tudo e de nada, ri-se porque sim e porque não, ri-se, como se não tivesse mais nada para fazer na vida senão rir. tem os olhos esborratados por uma espécie de lápis de cor bastante estranha e que não combina, mas nem no mais arrojado sentido de combinar, com o vermelho insípido com que pintou os lábios.ela ri-se, ri-se. irritantemente.
os putos não se calam, não páram de dizer asneiras. puseram a televisão no volume máximo e estão a ver um filme qualquer que já passou pelo menos umas duzentas vezes em todos os canais de televisão do mundo. os putos não se calam, saltam de um lado para o outro em equilibrismo sobre os sofás, não se calando com a imitação dos índios. o márito e zé fazem de índios, e não se calam, gritam como se gorgorejassem. o pedro e o quim correm atrás deles, gritando tiros tiros tiros pum pum. a anita e a maria gritam princesas raptadas pelos índios, namoradas de cowboys, rainhas selvagens. os putos não se calam, de um lado para o outro. quando um deles, nem reparo qual, passa por mim pisando o pé quando ando á procura do comando para mudar para a bola, leva um tabefe. os putos não se calam, revolução anti-velhote.
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sexta-feira, dezembro 12, 2003
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