digo que te espero e fecho os olhos. o que oiço, neste silêncio infernal da rua vazia, é uma sinfonia triunfal, como que a anunciar a minha derrota. sabes, apesar de seres distante comigo, ás vezes dou por mim a desejar abraçar-te.não é nada de sentimental, acho, é mesmo só uma vontade de te ter nos meus braços, uma necessidade de posse, de poder, de poder, é isso, eu gostava de te poder abraçar, ter-te, carne, objecto, ter-te.digo que te espero e fecho os olhos. tu já não voltas mais.
agora só escrevo coisas muito pequenas, duas três linhas. falta-me o folgo para poder crescer dentro de um texto. o meu único leitor diz-me que deve ser do tempo, este imenso calor de julho que nos queima a testa quando estamos a tentar beber um sumo de laranja numa esplanada perto do mar. eu não sei se será por usar há muito tempo a mesma caneta. enfim, parece que a tinta secou. agora só escrevo coisas muito pequenas. já não há ideias para mais.
aflige-me que te enganes tantas vezes a meu respeito. aflige-me que penses que eu faço coisas por ti ou pelos outros quando afinal eu só estou preocupado comigo. olhas para mim e não me vês, na realidade não me vês. aquilo ali que tu lês como sendo eu é só a imagem que tu projectas de mim. não sei que filósofo sugeriu isto, mas acho que tem razão. pelo menos do teu ponto de vista, tem razão. e isso parece-me já ser significativo. aflige-me que te enganes tantas vezes a meu respeito. e isso parece uma imensa fronteira fechada.
acordo com as calças húmidas junto ao meu sexo. espraiei-me durante a noite.há coisas que eu não consigo sequer justificar. não tenho uma erecção há dois anos e cinco meses e hoje acordo assim, materialmente orgasmático. não sei se me hei-de lavar ou se me sento assim no sofá, a apreciar-me. páro em frente ao espelho, posição de narciso com calmantes. havia alguém da minha família que dizia que eu era um grande animal. acordo com as calças húmidas junto ao sexo. apetece-me fumar.
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sábado, dezembro 06, 2003
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