Ainda bem que não tenho cara de escritor. As pessoas poderiam querer esbofetear-me na rua. Penso nisso e por alguns momentos sossego-me, sei que não corro o perigo de ser violentado, de ser agredido devido a uma aparência indesejada. Caminho pelo túnel do metro e sorrio.
O Metropolitano de Lisboa deseja Boa Páscoa a todos os seus utentes, devido a uma avaria técnica o tempo de paragem nas estações pode ser alargado. Uma écharpe lilás voa sobre o carril. Um cigarro solta uma última nuvem de fumo junto a uma placa que diz Perigo de Morte.
Sentado numa plataforma de madeira bastante desconfortável, olho o vazio que é uma cais cheio de gente disforme à espera. A maior parte dos dias não encontro nada de especial para fazer numa estação de metro. Já ninguém toca flauta nem vende chapéus-de-chuva. Curiosamente já nada pode acontecer por aqui. Convivo doentiamente com uma fotografia sem figuras humanas.
Enquanto olho para o telemóvel um comboio chega, pára e parte. Não sei se alguém entrou e duvido que alguém tenha saído. Enquanto olho para o telemóvel, a mesma cena repete-se do outro lado. O cais continua vazio, cheio de gente disforme. A écharpe lilás desapareceu e reparo que entretanto colaram um aviso a dizer Proibido Fumar.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, dezembro 27, 2003
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