oiço-te agora que já é de noite. oiço-te cantar canções de amor. aqui sentado, onde sempre trabalho ou onde sempre me distraio. sim, estou aqui, no mesmo lugar de sempre. agora que já é de noite. confesso-te, sem nada te dizer, como me é confortável este lugar. aqui, rodeado das minhas coisas, dos meus livros. oico-te agora, cantar canções de amor. essa tua alegria triste contagia-me. levo-te na lembrança agora, para todo o lado onde vou. sabes-me bem quando piso a calçada das ruas desta cidade. é pequena, à minha medida. devias vir cá ver.
invade-me sempre uma doce loucura quando o vejo a ele. exalta-me a sua inteligência. dizemos, a brincar, que nos vamos casar, que somos namorados. rimos, rimos muito. e depois ficamos sentados no café, a pedir algumas imperiais e tremoços, a ralhar com o dono do café que entra sempre na nossa brincadeira, a olhar para o futebol na televisão, a gozar com quem passa do lado de fora da montra. voltamos juntos para casa, e continuamos na louca conversa que mantemos sempre. passamos por uma esquina enconstados um ao outro, a rir. de repente, surgindo alguém, tentamos fazer uma pose séria. e dizemos até amanhã.
deixo o telemóvel ligado durante a noite inteira, à espera de ser acordado. à espera que me liguem. nem que seja para não me dizer nada. preciso que me digam que estão vivos, é essa a minha dependência. saber que alguém pensa em mim. procuro incessantemente uma fala minha na voz dos outros. e quando a leio, fico feliz. não preciso de muito mais. não preciso de te ver, de te ouvir, de te beijar. nunca, mas nunca vou ter saudades disso. preciso só de saber que pensas em mim. é esse o meu estranho modo de ser feliz.
leio Delerm e aponto esta passagem, "sans doute la vraie vie est là, dans la lenteur des pages". tento aprender a escrever mais devagar.
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terça-feira, dezembro 30, 2003
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