Tenho a sensação de ouvir um barulho de água ao fundo do corredor. Não sei o que te traz até mim, mas tenho a certeza do que me mantém longe de qualquer tipo de decisão ou de acção sobre o mundo em que nos movemos. Tenho a sensação de ouvir um barulho de água e sento-me no chão, escorregando com as costas coladas pela parede do meu quarto. Olho os meus pés descalços e tento perceber-lhes uma qualquer espécie de poesia. Muitos poetas escreveram sobre pés, sobre caminhos a fazer, caminhos que precisam de ser feitos. Eu não sei desses caminhos, mas tenho a certeza do que me mantém perto dos meus pés. Há uma extrema poesia nesta nossa proximidade. Gosto de os observar descalços. Como muitos outros homens, avalio algumas pessoas pelos pés. Gosto de os observar descalços. Raramente acho uns pés bonitos. De qualquer modo, seria incapaz de os tocar. Um sentimento de repugnância invada-me, associado a esse pensamento.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, agosto 30, 2004
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