no dia em que descobres que és sensual, as mulheres abrem mais os olhos quando passas e podes insistir num olhar mais penetrante, que elas o sentem como se fosses um mágico. nas mesmas mesas de café, estão os maridos delas que passam a olhar para ti desconfiados de que o espelho lá de casa poderá andar a dizer que há alguém mais bonito no mundo do que eles. tu endireitas as costas, escolhes, perversamente, uma mesa de café onde não só ela, como o marido, te possam ver. e depois enfias os olhos no jornal, como se nada fosse.
no dia em que descobres que és sensual, os teus amigos perguntam-te, desiludidos, se agora decidiste ser bonito. tu sabes que o esforço é mínimo. pentear o cabelo, colocar um pouco de gel, todo o restante ar desleixado e barba por fazer só ajudam ao teu brilhantismo. tu andas de carro, de um lado para o outro e páras nas passadeiras para poderes ver os desfiles dos modelitos das meninas. sorris, atrás dos óculos escuros e olhas de novo para elas, quando arrancas com o carro. elas pouco te vêem, nada sabem de ti. mas ficam a pensar.
no dia em que descobres que és sensual, as pessoas deixam-te passar nas portas, são mais simpáticas para ti, pensam sempre que és melhor do que na realidade és. tu abres e fechas livros quando estás em casa, podes até ser bruto entre os teus amigos. mas sabes que, quando olhas uma rapariga, ela percebe muito bem que a estás a olhar. e garanto que não é asco o que ela sente. nota-se isso pelo sorriso. por isso é que quando os maridos delas se levantam das mesas dos cafés, tu levantas os olhos do jornal que não estavas a ler e percebes que ela finge estar a arrumar sabe-se lá o quê na mala, só para ter o prazer de ser vista por ti mais uma vez.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, agosto 15, 2004
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