não escrever nunca um livro de memórias, deixar que o tempo se encarregue, docemente, de apagar todas as pequenas coisas de que não nos vamos lembrar nunca mais, todas as grandes coisas que se constituirão como surpresas quando forem recuperadas, nunca escrever um livro de memórias, nem guardar os diários de bordo, nem a agenda de reuniões, trabalhar só para o futuro, o passado vem connosco.
sair de casa sem levar as canetas nos bolsos ou papéis soltos dentro de livros, não usar livros para tirar apontamentos, não riscar as paredes dos outros, das casas de banho, nem as mesas dos cafés ou as revistas de biblioteca, ser uma pessoa normal, não usar referencias literárias nas conversas com o empregado do café, não discutir o final de nenhum livro numa agência bancária, resguardar conhecimentos e loucuras. ainda assim, permitir-se andar despenteado.
ter em mente, sempre, que as outras pessoas vêm as coisas de um modo diferente. não serão diferenças culturais, de educação, nada disso. é só tridimensionalidade. se eu te vejo o braço esquerdo, alguém te verá o braço direito. tendo isso em conta, nunca gritar para desconhecidos, nunca dizer, com toda a certeza do mundo que se tem razão, ainda assim, pode-se insultar o bandeirinha de um qualquer jogo de futebol. não vou escrever livros de memória, não vou. a última indicação diz que não se devem prolongar as mentiras.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
segunda-feira, agosto 16, 2004
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1 comentário:
belo texto pá. uma bela amostra da espécie literária que povoa a blogosfera: os posts.
esplêndido, pá.
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