talvez nunca tenhas pensado nisso, mas as amizades podem desaparecer assim, como um rio que seca pelo vale adentro, sabe-se lá onde faltou pela primeira vez água no leito, foram tantas as barcaças que, pelo meio de tombos e enjoos conseguiram ir até ao mar, que chegas a pensar se alguma vez a água faltou mesmo, talvez nunca tenhas pensado nisso, uma amizade pode parecer perfeita até ao preciso momento em que deixa de existir.
é porque é mesmo assim, um dia acordas e o rio secou. onde chegou a haver uma forte corrente agora sobram algumas poças e peixes mortos pelo chão que vai secar também, sabes agora melhor que ninguém que é só uma questão de tempo, não adiantam promessas ou detalhes que vão sendo ressuscitados por frases mais ou menos deslocadas, não adianta a repetição dos gestos, o passar pelos lugares reconhecíveis, um dia acordas, o rio secou, ponto final.
porque talvez não adiante sequer vestir um fato de gala para o funeral, paz à sua alma que se acabou, mais do que essa mera formalidade vai parecer matiné de reformados, domingo à tarde e uns quantos caquéticos a balançar os ossos ao som de músicas que ninguém ouve sem ser obrigado, os meus ossos estão bem obrigado, com falta de cálcio como de costume, um dia acordas e secou, foi embora, acabou. talvez nunca tenhas pensado nisso, mas as amizades podem desaparecer assim.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
domingo, dezembro 04, 2005
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2 comentários:
E os dentes? Como vão? Tens muita razão quando dizes que a amizade se pode tornar um rio que secou, mas também pode transmutar-se num pântano...isso depende de nós.
a moral é bonita até ao fim da paixão...3
um dia me dissram que amigos são como a geração da folhas. Alguns se vão com as estações... lindo texto, aliás, lindos textos, belo blog. O orkut realmente nos leva a viagens fantásticas!
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