queria conseguir inventar uma história para botar um homem dentro, um homem que fumasse calado em frente à janela de uma sala cheia de muitas vidas, muitos anos, muitos dias. queria inventar uma história, ou talvez só fazer uma música, onde um homem pudesse vestir o seu casaco e sair sossegado, de olhar pela calçada, a comprar o jornal e a tomar um café, a dizer um bom dia quotidiano aos conhecidos e a falar de futebol com a calma de uma pronúncia alentejana.
queria conseguir inventar uma história, mas não pego numa caneta. recosto-me mais no sofá e coloco um cd a tocar - calmo, suave. olho de novo o homem, calado. segue para casa, ou talvez não bem para casa, segue para o clube, vai jogas às cartas, vai gozar as piadas de um amigo, vai descansar as pernas debaixo da mesa do xadrez, das damas. vai olhar a televisão e as fotografias velhas nas paredes. vai dizer que se lembra deste e daquele. e vai sorrir.
queria ser capaz de inventar uma mulher, para fazer a história do homem. uma mulher não chega para uma vida, uma vida são semanas e semanas de angústias, felicidades, pequenas alegrias, carinhos e vitórias do benfica. gostaria de ser capaz de inventar a fragilidade e as palavras curtas que se dizem quando se apaga a luz do amor. e nem vale procurar dicionários nem enciclopédias, não é preciso saber quase nada deste mundo. um homem e uma mulher, sem conseguir fugir de um sorriso, quando se olham. queria saber inventar.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, outubro 14, 2004
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