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sábado, outubro 30, 2004

cadeira

desta cadeira áquela são doze passos, doze passos que eu ainda não aprendi. é preciso saber vigiar a nossa vontade, dizem. eu finjo não ouvir e olho a cadeira do lado de lá, penso, do lado de lá da minha vida. junto de cada cadeira há sempre uma mesa, prevejo, incerto. não tenho jeito para generalizações universais sobre os objectos, tenho consciência disso, disso e dos doze passos, daqui ali, daqui a já ali, poderiam dizer.

em muitas outras ficções entraram cadeiras. pode-se dizer que as cadeiras fazem parte da história da literatura. sim, é aceitável. embora não fosse aceitável imaginar, num qualquer livro que pretendesse explicar essa história às criancinhas, um capítulo intitulado "Cadeiras". ainda assim, arrisco, em muitas outras ficções entraram cadeiras. embora já tenha as minhas reservas em pensar que poemas aceitem de bom grado a presença de cadeiras. toda a poesia do mundo está nestes doze passos, daqui ali.

quantas vezes eu pensei e repensei o que te dizer, no instante em que me fosse possível, fazer os doze passos do amor. enumerei-os à exaustão dentro do meu pensamento, o lugar onde sempre me perco. quantas vezes eu pensei, é agora, já ali. e quantas vezes interpretei na tua face a reprovação do meu avanço, mesmo quando ainda nem tinhas dado pela minha presença. quantas vezes eu olhei para um livro, a disfarçar. e fiz, das quatro pernas das cadeiras, base de um poema, doze passos.

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