leio como se a cegueira se aproximasse. como se não voltasse esta fome de papel, nunca mais. aguento o silêncio, e rumo ao outro, aquele que está onde eu só o vejo com os olhos. nada de corpo, nada de sangue. não há pele, aqui, que não seja minha. e se procuro um canivete, é para me abrir, em dois, ao mundo.
decidi comprar um casaco novo, para estes dias de verão que prometem aproximar-se. tem um sorriso e um abraço juntos. nos bolsos, todos os papéis que conseguir encontrar. num saco, que trago sempre a tiracolo, trago o megafone escondido, para me fazer notar quando não restar mais ninguém que me procure. dizem-me, és difícil. e quando é de noite, choro na cama.
fico de tronco nu perante aqueles que me querem atacar. estou despido, sim, despido e vulnerável para os beijos que voam sem destinatários. digo, não sei para onde vou, e depois fecho os olhos e tenho a cabeça cheia de coisas por dizer. onde agora estou calado, há um monte de gente a falar cá dentro. olho o roupeiro, tiro todas as roupas para fora. sento-me numa gaveta e leio. como se a cegueira.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quinta-feira, junho 03, 2004
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