eu, que assobio como os passarinhos quando ando pela rua, sentado, quase imóvel, sem saber para onde deitar os olhos, se para a rua se para a televisão, a medo, sempre, a medo. eu, que cresço dez centímetros se estou sozinho e ninguém se importa comigo, que tenho pensamentos normais, como toda a gente, e pensamentos perversos, como toda a gente, a medo, a medo.
eu, que canto fechado no quarto, ali, calado, sem saber por onde deixar os olhos, farto de ler todos os letreiros das redondezas, cansado de tão míope que me tenho deixado fazer, a suar por causa das luzes, ou do calor, ou dos gritos das outras pessoas que festejam a vitória pelas ruas. eu, tão sempre tudo aquilo que sempre me aprisiona, tão sempre tudo aquilo que sempre me liberta, aqui, a medo.
e tu, que te resguardas no silêncio reverente dos sensuais, a deixares-te ficar na minha frente, a procurar o meu olhar, que foge, a tentar o meu sorriso, que se apaga, deves pensar, aí por dentro, que um fogo qualquer se ilumina, apesar de tudo o que veio antes de ti, apesar de tudo o que vem contigo. e eu, que me sento repetidamente para beber uma cerveja, procuro de novo as ruas vazias, onde assobio como um passarinho, para poder pensar em tudo isto.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
sábado, junho 26, 2004
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