escondido atrás do armário, eu oiço os gritos bem lá ao longe, onde eu não consigo ver nada do que acontece. escondido atrás das portas, eu não me apercebo sequer do que está em discussão. foram só pés a pisar com força no soalho e gritos a estalarem ouvidos pela casa. eu, o de fora, escondo-me, não participante. figurante do filme errado, na cena errada. enfim.
nestes dias em que lá fora o sol brilha por entre nuvens que lembram o inverno, fico com olhos de velhinho, chorosos e frágeis. quando ando pela estrada custa-me perceber as indicações das ruas e dos bairros. finjo que domino os sítios e se me engano culpo o condutor da frente. o sacana não fez pisca, não deu para voltar. eu sou assim. nem sempre estou nas cenas erradas. só naquele dia.
escondido atrás do armário penso nas minhas coisas, na minha cabeça a dar horas, na bomba-relógio que podia ser a minha vida se, se ou se. é assim que eu faço as coisas, devagar e calado, em silêncio, a medir os passos pequeninos. e quando me gritam treme-me o mundo por baixo e fico de olhos de velhinho, como o sol de hoje, a espreitar por entre as nuvens do inverno.
Arquivo do extinto blogue Esferovite- a vida em pedaços (13-08-2003/ 4-01-2006)
quarta-feira, setembro 15, 2004
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1 comentário:
saudades querido espero que esteja tudo muito bem.beijo stop
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